Por Fernando Seacero*
Na hora de adotar um modelo de aprendizagem digital nas empresas, é fundamental ter claras algumas diferenças sobre as plataformas adequadas para entreter ou para aprender.
Ultimamente, são muitas as necessidades de transformação digital. Há também uma invasão de soluções de ensino à distância que precisam ser analisadas e filtradas por quem cuida da aprendizagem e do engajamento, ou melhor, das pessoas nas empresas.
Segundo o Fosway Report 2020, um relatório anual sobre diferentes plataformas de aprendizagem, 95% das empresas mundiais afirmam que a aprendizagem e o treinamento corporativo não irão retornar para seu formato de antes da pandemia. Logo, acertar nessa escolha é uma questão de impacto no longo prazo.
Porque o Netflix não é bom modelo de aprendizagem?
Há vários exemplos de Plataformas Digitais destinadas a aprendizagem que em diferentes maneiras ou momentos se descrevem como: “Minha plataforma é como um Netflix da aprendizagem”. Mas, em que o Netflix não combina com aprendizagem?
O Netflix oferece uma boa quantidade de vídeos e sua disposição nos impulsiona a ver mais e mais títulos, que são sugeridos e relacionados com nossas escolhas. Apesar disso, o ato de assistir um vídeo ou filme não traz aprendizagem em si. Quando falamos de aprendizagem, devemos lembrar que ela é um ato participativo, que necessita de estímulo para um envolvimento ativo.
Para que a pessoa aprenda e tenha memória de longo prazo é preciso ativar estas três áreas do sistema nervoso:
O Cérebro Reptiliano, estimulado quando agimos e nos movimentamos, o Cérebro Límbico, que á ativado quando somos estimulados emocionalmente e afetivamente (verbalmente ou com música, ou com a troca de informações entre os participantes da plataforma), e o Cérebro Neo cortical, que é estimulado com informações e conhecimentos (escrito, lido).
Porque o modelo Netflix entretém, mas não ensina colaboradores
As plataformas que são grandes repositórios de conteúdo não estão alinhadas com os objetivos e impactos esperados da aprendizagem digital nas organizações.
O que vemos muitas empresas fazendo é simplesmente trazer uma aula expositiva em formato digital, onde quase não há interação com as pessoas, apenas um complemento com canais de perguntas.
A exposição feita desta forma, num formato transposto do presencial para o digital, deve exigir uma preocupação com a criação de um lugar onde a pessoa possa interagir, um game para participar, um espaço onde possa postar experiências, um fórum onde possa colocar suas perguntas, um espaço de feedback em duas vias etc.
Mudar do presencial para o on-line, mas não mudar o “como”, não melhora o nível de aprendizagem.
Além do conteúdo disponível para ser consumido, as plataformas com modelo Netflix chegam a complementar a experiência com Quizzes ou perguntas de múltipla escolha. Nesse caso, há um rápido envolvimento do participante ao responder estas questões, mas a participação e envolvimento são limitados. Quando a ação e participação consistem em apenas escolher entre as respostas e, muitas vezes, simplesmente responder para passar para o próximo desafio.
O objetivo é absorver e reter conteúdo
Ao relacionar a mesma estrutura de aprendizagem, Vídeo e Quizzes podemos afirmar que a aprendizagem estruturada desta maneira está projetada quase que exclusivamente para recordar o conteúdo, gerando no máximo uma absorção de 20% do que está sendo proposto conforme a Taxonomia de Bloom descrita na imagem abaixo:
Os desafios de aprendizagem são cada vez maiores à medida que o mundo corporativo e o mercado se tornam mais complexos e com mudanças cada vez mais rápidas.
Como podemos de fato gerar aprendizagem e responder a este desafio nas organizações e no mundo? Vamos conversar?