
Por Fernando Seacero, CEO da i9Ação
Em nossos artigos anteriores, falamos sobre psicologia do comportamento ético, tomada de decisão, liderança e emoções pró-sociais que impulsionam uma cultura ética no ambiente corporativo. Também abordamos como o mindset de jogo ajuda líderes a quebrar resistências e incentivar a adoção de boas práticas.
Mas como manter esse fervor e engajamento ao longo do tempo? Como evitar que a cultura ética, uma vez implantada, estacione e caia no esquecimento? Neste sexto texto da série Gamificação, Psicologia e Ética: A Nova Fronteira vamos discutir estratégias para manter a cultura viva no longo prazo, com ciclos de aprendizagem contínua e renovação de práticas gamificadas.
Por que a Cultura Ética pode cair na estagnação?
Algumas empresas ainda não trabalham a comunicação e o conhecimento do compliance durante todo o ano, e isso gera alguns desafios para a área.
- Empolgação Inicial x Rotina
Muitas iniciativas de compliance, segurança ou conduta ética começam com entusiasmo. Porém, após o “boom” inicial, o dia a dia retoma seu curso e as pessoas deixam de priorizar o que antes parecia tão importante. - Falta de Renovação
Se a empresa não atualiza narrativas, desafios ou conteúdos, o aprendizado torna-se repetitivo. Aquilo que era engajador passa a ser visto como mais uma obrigação rotineira, sem novidade. - Ausência de Ciclos de Feedback
Sem retornos constantes sobre o que está funcionando ou não, colaboradores não percebem progresso e param de se motivar para manter as boas práticas.
Gamificação contínua: o antídoto para a estagnação
Uma das chaves para garantir a longevidade da cultura ética é enxergar o programa de Compliance, EHS ou qualquer outro como um jogo em evolução, não um evento pontual. Isso significa:
- Ciclos de aprendizagem
Em vez de um grande treinamento por ano, que tal distribuir pequenas doses de conteúdo (microlearning) ao longo de trimestres ou meses, cada uma com seu minidesafio, feedback imediato e ritual de conclusão? - Novos conteúdos e fases
Assim como nos games, onde passamos de fase ao concluir desafios, a empresa pode criar “temporadas” de compliance ou segurança, renovando os cenários, dilemas e recompensas. Esse “ar fresco” mantém a curiosidade viva. - Conquistas e celebrações
Recompensas — seja na forma de pontos, badges digitais ou reconhecimento público — precisam ser atualizadas, para não perderem valor. Cada semestre ou ciclo pode trazer novos tipos de conquistas, mantendo o sentimento de avanço e crescimento contínuo.
Microlearning e pequenos desafios: trazendo a Cultura Ética à rotina
Um dos riscos é sobrecarregar colaboradores com treinamentos extensos, fazendo-os perder o foco. O microlearning divide o conhecimento em pílulas:
- Vídeos curtos ou quizzes rápidos, que podem ser acessados em qualquer lugar (via smartphone, por exemplo).
- Minigames que reforçam pontos específicos da conduta ou do compliance em apenas 5 a 10 minutos de interação.
- Feedback imediato ao final de cada pílula, gerando endorfina por conquistar algo no dia.
Por que funciona?
O cérebro assimila melhor quando há constância e repetição em curtos intervalos. Além disso, dribla a falta de tempo ou a resistência natural a longos treinamentos.
Renovando a narrativa: manter o Conteúdo atraente
Em muitos jogos de sucesso, o enredo evolui a cada temporada. O mesmo vale para a cultura ética. Se, por exemplo, no primeiro semestre o foco foi “Sistema 2 e tomada de decisão ética”, no segundo semestre você pode explorar emoções pró-sociais ou inteligência artificial aplicada ao compliance. Assim:
- Equipe não cansa: Toda vez que surgir algo novo, existe um impulso de curiosidade para descobrir como serão os novos desafios.
- Atualização em linha com a realidade: Conecte conteúdos recentes à sazonalidade da empresa.
- Fortalecimento da identidade: Cada fase concluída reforça o quanto a cultura está enraizada, mas também disposta a se adaptar aos novos contextos e tecnologias.
Ciclos de feedback e ajustes
Para evitar que práticas éticas se percam, crie rotinas de avaliação:
- Dashboards: Acompanhe índices de participação em quizzes, pontuações em jogos, relatórios de incidentes etc.
- Feedback coletivo: Reuniões curtas para celebrar conquistas do ciclo anterior e lançar o próximo desafio.
- Abertura a sugestões: Permita que colaboradores enviem ideias para melhorar o game, desafios ou os próprios processos internos — criando colaboração e sentimento de pertencimento.
Imagine que a empresa, a cada trimestre, avalie o “barômetro de engajamento”: se notar queda de interesse, pode reinventar uma parte do jogo, adicionar “Cartas de Desafio” extras ou focar em um tópico novo (p. ex., viés da normalização, análise de casos reais etc.).
O papel do líder na aprendizagem contínua
Se antes o líder era visto como “fiscal” de regras, no contexto de gamificação contínua ele torna-se facilitador e estimulador de novos aprendizados. Isso envolve:
- Divulgar as metas do novo ciclo e os resultados do anterior.
- Oferecer feedbacks positivos e construtivos, valorizando cada passo adiante na cultura ética.
- Premiar a criatividade de quem propõe melhorias ou novos modos de reforçar a conduta.
Assim, o líder age como um “game master”, mantendo a engrenagem do jogo viva e adaptando os desafios à realidade de cada equipe.
Conectando compliance, segurança e além
A ideia de aprendizagem contínua não se restringe a compliance. Serve para manter a cultura de segurança após a SIPAT, reforçar valores na integração de novos colaboradores (onboarding) ou até criar ciclos de aprendizado para líderes. O importante é que esse “mindset de jogo”, aliado à microaprendizagem e a feedbacks constantes, garanta que o assunto não fique velho e que cada colaborador se sinta sempre envolvido.
Encarar a cultura ética como um ciclo — em vez de um evento pontual — é o segredo para evitar a estagnação. Com renovação de conteúdos, microlearning, feedback constante e liderança engajada, o aprendizado vira parte natural do dia a dia. Isso assegura que compliance, segurança e outros valores cruciais permaneçam vivos, gerando resultados sólidos e um ambiente de confiança.
Se você quer implementar essa lógica de gamificação contínua para manter a cultura da sua empresa sempre em evolução, vamos conversar. A i9Ação tem soluções criativas, tecnológicas e humanizadas para engajar colaboradores em longo prazo e transformar o jeito de aprender no seu negócio.
Próximos Temas da Série
- Integração entre EHS e Compliance: Gamificando a Segurança e a Ética
- Resistências ao Compliance: Como Quebrar Barreiras Culturais por meio de Experiências Lúdicas
Fique de olho para mais insights na série “Gamificação, Psicologia e Ética: A Nova Fronteira”!