Companhias tentam amenizar estresse do retorno ao trabalho e investem em soluções de bem-estar para reter talentos
Por Ana Flávia Pilar — Rio de Janeiro
A volta ao trabalho presencial no pós-pandemia tem levado empresas a lançar mão de estratégias para reter talentos. As medidas vão de inauguração de restaurantes nas companhias e criação de hortas em ambiente de trabalho para fornecer alimentação mais saudável até aulas de pilates e campeonatos de futebol.
A estratégia de oferecer mais conforto e bem-estar aos empregados se insere em um movimento que ganha força, o employee experience, que visa oferecer boas experiências aos colaboradores. Após a pandemia, a remuneração deixou de ser prioridade para muitos, que passaram a eleger comodidade e bom ambiente de trabalho como requisitos.
O restaurante Salsalito costumava vender quentinhas para equipes da Subsea7 e recentemente inaugurou uma unidade dentro da companhia. Dono do empreendimento, Mário Cunha, de 71 anos, conta que a meta é abrir mais restaurantes em empresas e recuperar perdas da pandemia.
— Fomos convidados para montar uma unidade em outro escritório aqui no Rio. É um modelo que funciona. Já estamos na Equinor e no BMG há mais de dez anos, e agora as pessoas têm saído menos para almoçar — diz o empresário.
A Equinor adotou o modelo de trabalho híbrido, e a demanda pelo restaurante corporativo segue crescendo. A companhia diz que a proposta é oferecer alimentação de qualidade sem necessidade de deslocamento.
De lavanderia a pilates
Na Subsea7, além do novo restaurante, os mercadinhos de autoatendimento oferecem um mix entre fitness e comfort food, diz a diretora executiva de RH da empresa, Alessandra Nogueira. Máquinas automáticas passaram a ter chás para atender a todos.
— As empresas estão preocupadas em criar ambientes de convivência e valorizar o tempo no escritório. Algumas têm parceria com lavanderias que buscam roupas no trabalho, outras concedem cartão-mobilidade, para que as pessoas possam ir de bicicleta ou carona — diz Alessandra, que é professora da Escola de Negócios da PUC/Rio.
No Grupo Pereira, varejista, uma horta voltada para a alimentação dos funcionários foi ampliada e um espaço anexo passou por reforma para realização de aulas de funcional e pilates. São cultivadas hortaliças, temperos, chás e frutas. É debitado valor simbólico dos funcionários que almoçam no refeitório, e o cardápio é feito com acompanhamento de nutricionista.
As aulas de funcional e pilates ocorrem duas vezes na semana. Elas são ministradas por um professor, com mensalidade à parte, mas os equipamentos ficam disponíveis para quem quer se exercitar por conta própria. Paulo Silva, diretor de Gente & Gestão do Grupo, diz que refeição saudável, feita no trabalho e sem agrotóxicos, é um diferencial.
— Algumas partidas são exclusivas entre times da empresa, mas outras incluem diferentes escritórios de advocacia. É voltado ao público masculino, mas todos podem participar: do estagiário ao sócio — diz Renan Moy, responsável pela área de RH.
Em São Paulo, o escritório Abe Advogados promove campeonatos de futebol para incentivar a equipe. Os jogos ocorrem durante a semana, depois do expediente.
Parecido com a casa
Além disso, o escritório oferece sessões de degustação de vinhos. Os encontros são organizados por uma sócia, Fernanda Garcez, que seleciona cerca de seis vinhos com tipos de uvas e regiões diferentes.
— Entre um vinho e outro, só tomamos água para não afetar o paladar. Após a degustação, aproveitamos para comer um queijo ou uma pizza com os vinhos — diz Moy.
A Vital Work está capitalizando essa crescente preocupação das empresas com o bem-estar dos funcionários. A companhia trabalha com diversas soluções em saúde, como psicoterapias e programas voltados a diminuir taxas de obesidade, sedentarismo e tabagismo, por exemplo.
Seu faturamento cresceu 47% em 2022. Entre clientes industriais, pesquisas indicam aumento na produtividade e redução pela metade no número de cirurgias ortopédicas. No setor administrativo, houve queda acentuada nos níveis de estresse e ansiedade.
Os jogos empresariais também surgiram como solução para deixar os colaboradores menos entediados durante treinamentos corporativos. No primeiro semestre de 2023, o faturamento da i9Ação — que tem clientes como Bayer, Itaú e NuBank — cresceu 36% em relação a igual período de 2022.
— Aprender tem a ver com participar e esquecemos disso por conta do nosso modelo educativo — afirma Fernando Seacero, CEO e especialista em neuroaprendizagem.
Jogo ‘Heróis da Integridade’, desenvolvido pela i9ação [clique na imagem acima para assistir ao vídeo publicado pelo O Globo]
Fernanda Santos, chefe de Recursos Humanos no Gasparini, Nogueira de Lima e Barbosa Advogados, destaca que, hoje, é preciso mais do que remuneração, desenvolvimento e reconhecimento para reter os profissionais nas empresas:
— É por isso que as pessoas não ficam mais anos trabalhando no mesmo lugar. Então, o setor de RH começa a pensar na experiência dos “clientes”, os profissionais.
Verônica Marques, especialista em economia criativa, diz que isso passa por fazer com que as pessoas gostem de onde trabalham:
— Com a tendência de employee experience, as empresas despressurizam os ambientes para que eles se pareçam com as casas das pessoas. As empresas precisam reter talentos. Tem mais a ver com o senso de engajamento do colaborador.
Alex Araújo, gestor e CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, explica que, na volta aos escritórios, os trabalhadores estão estressados com mudanças como ter que sair cedo de casa e enfrentar o trânsito ao trabalho. Isso ajuda a explicar os esforços das empresas.
— O colaborador está descontando essa pressão para se adequar até mesmo nos alimentos, por isso o aumento na venda de itens como fast food e biscoitos — pontua.
Espaço de café turbinado
De quebra, o movimento gera negócios. Pausa para o cafezinho e ofertas de refeições saudáveis significam mais demanda por máquinas de bebidas como as da Nespresso. Levantamento da consultoria Kantar para a Nespresso Professional, voltada a empresas, mostra que mais de 50% das companhias querem renovar espaços de convivência com café. A Nespresso Professional cresceu quase 80% ano passado. Recentemente, a marca lançou planos de assinatura para pequenas empresas.
No retorno ao presencial, a Mapfre decidiu instalar máquinas Nespresso em todos os andares das sedes de São Paulo, ao perceber que os funcionários valorizam cada vez mais os momentos de descontração, conta o diretor de RH, Francisco Labourt:
— A pausa para o café proporciona um ambiente mais estimulante e integrativo.
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Parabéns para a i9Ação pela matéria. Mais que merecida.