
Por Fernando Seacero, neuropsicólogo e fundador da i9Ação
Uma pergunta incômoda: quando foi a última vez que você sentiu entusiasmo ao ouvir a palavra compliance? Para muitos profissionais, o termo ainda evoca checklists extensos, siglas de normas e aquele curso on-line que precisa “passar de primeira” para não travar o sistema de RH.
Mas o contexto regulatório evoluiu — e, com ele, a urgência de transformar regras em comportamento vivo.
Raízes etimológicas: do complere ao corporate
A origem de compliance remonta ao latim complēre, “cumprir, completar, preencher”. No inglês jurídico do século XIX, to comply significava obedecer a ordens judiciais. Já em 1977, com o Foreign Corrupt Practices Act, a palavra ganhou protagonismo corporativo: era preciso “cumprir” novas obrigações legais. Décadas depois, LGPD, SOX, ESG e tantas outras siglas ampliaram o alcance do termo.
No entanto, algo se perdeu no caminho: quando “cumprir” vira sinônimo de burocracia, as pessoas deixam de enxergar sentido.
A virada: obrigação × cultura
Dados de neurociência da aprendizagem mostram que, após duas semanas, retemos menos de 30 % de um conteúdo que recebemos de forma passiva. Infelizmente, não é surpresa que muitos treinamentos de compliance se tornem meras formalidades. Empresas que enfrentaram multas bilionárias aprenderam, à força, que seguir regras é apenas o início.
A real proteção surge quando decisões éticas acontecem em tempo real, no chão de fábrica, na reunião de vendas e na troca de e-mails com fornecedores.
Surge o complayer
É aqui que entra um novo protagonista. Eu o chamo de complayer:
“Profissional que não apenas cumpre regras, mas joga para melhorar processos, apontar riscos e inspirar colegas.”
A metáfora do jogo não é casual. Games bem-desenhados oferecem:
- Desafios claros – o que precisa ser feito agora
- Feedback instantâneo – estou na direção certa?
- Progressão visível – níveis, badges, rankings
Quando transpostos para o ambiente de trabalho, esses elementos geram senso de propósito, cooperação e, principalmente, memória de longo prazo.
Três exemplos de transformação com a gamificação
- Logística global: uma simulação gamificada de dilemas de fraude elevou a participação espontânea em fóruns de ética em 68 %.
- Complexo hospitalar: missões semanais sobre sigilo de dados de pacientes mantiveram 82 % de lembrança correta dos protocolos sessenta dias após o treinamento.
- Indústria química: uma “Maratona de Integridade”, com quiz ao vivo e ranking entre plantas, reduziu em 31 % os incidentes de conduta no período de um ano.
Os resultados acima foram coletados em projetos conduzidos pela minha equipe entre 2021 e 2024.
Por que falar de compliance pode — e deve — ser interessante
- Relevância diária: decisões éticas movem contratos, carreiras e a própria sustentabilidade do negócio.
- Reconhecimento social: atuar corretamente gera orgulho profissional — algo poderoso em tempos de propósito.
- Efeito rede: comportamentos éticos contagiam (no bom sentido), criando círculos virtuosos de colaboração.
Quando colaboradores percebem que compliance não é “freio” mas potencializador de resultados, tornam-se os maiores promotores da cultura — verdadeiros complayers.
Sua organização está formando complayers ou ainda fica restrita a cumpridores de regras? Acompanhe por aqui, nas próximas semanas, caminhos práticos para transformar listas de verificação em experiências que engajam, mensuram resultados e fortalecem a cultura ética. Você também pode entrar em contato pelo link www.i9acao.com.br/contato.
Fernando Seacero é psicólogo, especialista em neuroaprendizagem e fundador da i9Ação. Há mais de 20 anos cria soluções que unem ciência do comportamento, tecnologia e gamificação para impulsionar resultados de negócios.
Quer compartilhar sua experiência ou dúvida sobre engajamento em compliance? Envie uma mensagem abaixo. Vamos evoluir esse jogo juntos.