Por Fernando Seacero
Da série Como aumentar o engajamento e a aprendizagem em ambientes digitais
Uma análise da teoria de MacLean sobre as três divisões do cérebro, da teoria de Daniel Kahneman sobre Rápido e Devagar, e da nossa própria experiência de aplicações para melhorar o que conhecemos como aprendizagem digital
Desde que comecei a estudar o nosso sistema neurovegetativo e sua influência em nosso desenvolvimento com meu grande professor Federico Navarro, fui apresentado à teoria de MacLean.
Em seu livro “O Cérebro Trino em evolução”, o médico e neurocientista Paul MacLean cita que, ao longo de sua carreira clínica, começou a perceber que os pacientes de seu consultório reagiam e respondiam às suas perguntas e indagações de formas distintas em dias diferentes.
Às vezes, respondiam de forma reativa, algumas vezes afetiva, e outras vezes de forma racional e lógica. Então, ele começou a sempre se perguntar, quando iniciava uma sessão, quem estava à sua frente naquele dia: o racional, o emocional ou o reativo?
Assim, MacLean começou a esboçar sua genial teoria, amplamente aceita hoje em dia, de que temos três divisões e agrupamentos cerebrais: o Sistema Neocortical (racional e lógico), o Sistema Límbico (emocional e mamífero), e o Sistema Reptiliano (reativo e impulsivo, que herdamos dos répteis).
Cada um desses sistemas tem sua funcionalidade e assume nossas decisões e ações em diferentes momentos. Há momentos em que precisamos de uma decisão rápida. Em outras ocasiões, precisamos pensar mais longamente e reflexivamente sobre algo antes de trazer alguma decisão.
Uma outra forma de vermos estes três cérebros em ação, é quando pensamos no também superfamoso livro “Rápido e devagar: Duas formas de pensar”, de Daniel Kahneman.
Quando estamos falando de pensamento rápido, de decisões rápidas e reativas, falamos de ações de nossos cérebros reptiliano e límbico, que trabalham com a intuição e com reações e soluções ágeis. Já quando nos referimos ao pensar devagar, estamos abordando o pensar neocortical, ou seja, a reflexão e o metapensamento.
E qual a relação desses 3 amigos com a aprendizagem digital?
Quando pensamos em estruturar uma jornada de aprendizagem que gere impacto e que possa criar memória de longo prazo, ou mesmo em microlearning, é sempre importante ter em mente que a estimulação dos dois tipos de pensamento, rápido e devagar, são essenciais para a aprendizagem.
Um conteúdo que é seguido de um teste ou de um game é excelente, pois estimula o pensamento rápido e a fixação inicial na memória, reduzindo o efeito de esquecimento.
Quando oferecemos uma pergunta aberta, ou um fórum de discussão sobre um tema, onde a pessoa tem que elaborar com suas próprias palavras o que aprendeu e debater sobre o assunto, estamos proporcionando a estimulação do pensamento reflexivo, ou seja, do neocortex.
Quando a complexidade da pergunta e o nível de desafio são maiores (dentro da possibilidade da pessoa que irá responder), aumentam ainda mais as chances de que ela de fato possa aprender e implementar esse aprendizado em sua vida.
Ilhas de memórias e conhecimento
É como se no primeiro contato, nos primeiros testes sobre algum conteúdo, nós criássemos diversos pontos de conhecimento e ilhas de memória, mas que ainda não se conectam. Elas ficam à disposição, por um período, para nos lembrarmos delas por um período.
Sabe quando alguém lhe pergunta algo que você sabe, mas não consegue verbalizar e lembrar a resposta por completo? Você sabe que sabe, que está lá, mas, por algum motivo, a informação não vem à tona. Então, horas ou dias depois, você tem o estalo e diz: Putz, lembrei agora!
Sim! Essa memória que você tentou resgatar incialmente era apenas uma ilha de informação. Quando você lembrou, relacionou com a pessoa que fez a pergunta dias ou horas antes, e ela passou a ser uma memória mais forte.
Quando temos o primeiro contato e respondemos quizzes e desafios em formatos de mini games, desenvolvemos estas pequenas ilhas de informações que podem ou não formar memórias mais consistentes.
Quando, após alguns dias, oferecemos a oportunidade de a pessoa responder com suas próprias palavras uma reflexão, ou solicitamos que ela sintetize o que aprendeu, criamos a chance de que aquela memória se integre com outras informações para formar aprendizagens mais significativas.
Ou seja, sempre que queremos gerar aprendizagem significativa, é importante lembrarmos que os 3 amigos (os cérebros reptiliano, límbico e neocortex) devem ser estimulados. Isso significa que, falando de outra forma, o pensamento rápido e o pensamento devagar devem ser estimulados conjuntamente.
*Fernando Seacero é CEO e fundador da i9Ação
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